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Mostrando postagens de janeiro, 2010

Somos o que há de melhor, somos o que dá pra fazer...

  Cara, e o Mutly? O Mutly era sinistro, muito sinistro. Gente boa ele, mas, como todo mundo, tinha seus defeitos. Um deles era não saber perder ou ficar para trás. A minha impressão, na época, era que a vida dele era uma eterna competição. Não sei se acho isso legal, mas enfim... Conheci o cidadão no 2º ano e confesso que me aproximei dele por interesse. Tá, é feio, eu sei, mas aconteceu, fazer o que? Ele conhecia uma pessoa que eu queria conhecer também, e, no auge da minha timidez, vi ali uma oportunidade. Bom, tivemos uma amizade legal no início, um ia na casa do outro, às vezes jogávamos futebol, war, botão. Mas esse negócio de competição começou a me incomodar. No futebol, quando ele estava perdendo, apelava à violência ou então começava a errar cada vez mais e ficava brabo, e a gente ria e ele mais brabo ainda... E era sempre assim. Lembro de uma prova de português (nunca fui bem nessa matéria, sempre passava com os pelinhos na cerca) e, nessa prova, fiz a redação, interpreta

Canção para uma valsa lenta - Mário Quintana

  Minha vida não foi um romance... Nunca tive até hoje um segredo. Se me amas, não digas, que morro De surpresa... de encanto... de medo...   Minha vida não foi um romance Minha vida passou por passar Se não amas, não finjas, que vivo Esperando um amor para amar.   Minha vida não foi um romance... Pobre vida... passou sem enredo... Glória a ti que me enches a vida De surpresa, de encanto, de medo!   Minha vida não foi um romance... Ai de mim... Já se ia acabar! Pobre vida que toda depende De um sorriso... de um gesto... um olhar...

As Nuances de um Rosto

  O palco já estava montado. Na primeira fila ela aguardava com certa ansiedade. As cortinas vão se abrindo lentamente sob uma penumbra cinza-azul-escuro. No ar, um sentimento de nostalgia, uma sensação de que as coisas já não mais seriam como antes. Seus olhos pretos estavam fixos em um ponto qualquer, sua imaginação e lembranças voavam ao longe... As luzes apagam-se por completo, envolvendo a todos com uma escuridão sinistra. Medo e suspense pairam no ar. De repente, um holofote aponta para o canto inferior, à esquerda: há um corpo caído, sentado junto ao canto. Lagrimas caem dos seus olhos. Ele encara as pessoas com seus lábios trêmulos, machucados, vermelhos de sangue. Morde outra vez os lábios. Enxuga as lagrimas e levanta-se... O show deve continuar! Estufa o peito e uma coragem nunca experimentada antes com toda essa intensidade lhe invadem a alma. Ele fez sua parte... Bem? Mal? Isso pouco importa agora. Ele fez sua parte e ponto final. Após baixarem-se as cortinas,

Qual é a pior droga?

  Fiquei me fazendo essa pergunta ontem, aliás, já me fiz várias vezes esse questionamento. Não tenho experiência para dar uma resposta definitiva, mas em minha opinião o álcool é disparado, a pior de todas. Seu efeito é devastador, não só para quem usa, mas acaba afetando toda família. Acaba com tudo. Todos sofrem. Infelizmente o que aconteceu com o David Coimbra não é exceção, aliás, exceção é uma família que não ingere álcool. Ah, mas eu só bebo socialmente. Sim, e daí? Para muitos é o suficiente para alterar o comportamento ou então causar um acidente, afetando inclusive pessoas inocentes. Posso parecer meio radical, mas meu pai era alcoólatra e eu vi de perto todos os efeitos que a bebida causa na vida de uma pessoa. Meus pais separaram quando eu tinha 10 anos e naquela época meu pai já bebia “socialmente”.  Na verdade era um pouco mais que socialmente, às vezes muito mais. Menos mal que ele não era uma pessoa violenta, pelo menos eu nunca vi ele agindo dessa maneira. Mas após

Certa noite de chuva - David Coimbra

Chovia muito no último dia em que vi meu pai. Eu estava com oito anos de idade e padecia na cama com 40ºC de febre. Amígdalas. Meus pais tinham se desquitado havia já alguns meses. Eu, meus irmãos e minha mãe morávamos num apartamento de um quarto na Assis Brasil. Ele foi nos visitar e deparou comigo tiritando sob a coberta. Lembro com nitidez daquela noite, dele parado à soleira da porta do quarto, de pé, olhando-me, e minha mãe ao lado, com o papel da receita do médico na mão. Ele tomou a receita e ofereceu-se para ir à farmácia. Deu as costas para o quarto, mergulhou na escuridão do corredor e foi embora. Nunca mais o vi. Logo depois ele se mudou para outro Estado, no Centro-Oeste, e lá construiu o resto da sua vida. Um dia de 2001 alguém me disse: - Teu pai morreu ontem. E eu não sabia o que sentir. Não conto essa história com ressentimento. Porque acho que entendo o que aconteceu com meu pai, naquela noite de chuva. Ao sair do apartamento, ele de fato tencionava comprar o

Meus bons amigos

Responda rápido: quem é teu melhor amigo? Tic tac tic tac... pensou? Eu sim e não me veio ninguém à cabeça. Tá, marido/mulher não conta. Nem animal de estimação. É triste isso. Já escrevi outro dia  que após várias mudanças acabei perdendo minhas referências e os novos  amigos passam a ser colegas. Lógico, existem exceções, mas de um modo geral é por aí mesmo. Mas nem sempre foi assim. Meu primeiro melhor amigo foi o Luciano, colega de aula, na 3ª série. Era uma pessoa bacana, até que um dia aprontou uma... Putz, eu tinha 7 ou 8 anos e nunca esqueci. Como tem coisas que marcam a gente né? Bom, aí fui morar em Campo Bom e conheci outra pessoa legal, o Paulo, mais conhecido como “Batata”. Voltei pra Ijuí e aí sim fiz amigos de verdade, amigos de fé que nunca saíram do pensamento. O Marcelo Nunes foi um deles. Eu estava na 5ª série e cheguei no Ruizinho no meio do ano e o cara me deu a maior força. Outra grande amizade foi a do Edson Dessuy. Fomos colegas de aula, vizinhos e grandes ami

Tatuagem - Paulo Sant'Ana

  Descobri em mim há pouco tempo uma capacidade: eu estou apto para todos os encontros. Se, como disse o Vinícius, a vida é a arte do encontro, então eu sou um artista. Mas eu contrariaria o grande poetinha, afirmando que a vida consiste também na arte da despedida. Porque muitas vezes um novo encontro depende vitalmente de uma anterior despedida. E eu não tenho nenhuma aptidão para as despedidas, daí porque sinto-me incapacitado para a vida. Ninguém que não conseguiu despedir-se é capaz de encontrar-se novamente. Todo encontro é sempre informal, não o presidem quaisquer compromissos, nem o sucesso dele próprio. Já as despedidas, estas são solenes e formais, pesadas, derrubadoras, repletas e gritantes, de fracasso, até mesmo as despedidas agradáveis, imaginem as indesejáveis. Livrem-me de todos os adeuses, até mesmo porque todos são hipócritas, ninguém pode separar-se daquilo ou de quem já amou, mesmo que não ame mais. Mais atroz que uma chacina será então um adeus ao que ainda se