Cara, e o Mutly? O Mutly era sinistro, muito sinistro. Gente boa ele, mas, como todo mundo, tinha seus defeitos. Um deles era não saber perder ou ficar para trás. A minha impressão, na época, era que a vida dele era uma eterna competição. Não sei se acho isso legal, mas enfim...
Conheci o cidadão no 2º ano e confesso que me aproximei dele por interesse. Tá, é feio, eu sei, mas aconteceu, fazer o que? Ele conhecia uma pessoa que eu queria conhecer também, e, no auge da minha timidez, vi ali uma oportunidade. Bom, tivemos uma amizade legal no início, um ia na casa do outro, às vezes jogávamos futebol, war, botão. Mas esse negócio de competição começou a me incomodar. No futebol, quando ele estava perdendo, apelava à violência ou então começava a errar cada vez mais e ficava brabo, e a gente ria e ele mais brabo ainda... E era sempre assim. Lembro de uma prova de português (nunca fui bem nessa matéria, sempre passava com os pelinhos na cerca) e, nessa prova, fiz a redação, interpretação de texto e só. Deixei toda parte da gramática em branco. E o Mutly fez toda prova, não deixou nada em branco. E não é que minha nota foi mais alta que a dele?! Ah o cara pirou. Enlouqueceu. Ficou vermelho de raiva. Roxo até. A boca espumava. "- Mas como?", dizia ele. Arrancou minha prova das mãos e foi reclamar à professora. Fosse o Gustavo estaria dizendo "injuuuuuuusto!" hehehe.
Lembrei de outra agora: uma excursão às Ruinas de São Miguel que foi marcada para um sábado, mas acabou coincidindo com uma aula de recuperação. A professora daquela disciplina falou que era obrigada a comparecer na escola, porém, se não aparecesse nenhum aluno, não poderia contar como aula. Uma pessoa foi e quis aula... Quem? Quem? Ele mesmo, o Mutly.
E por mais que a gente pensasse que ele tinha atingido seu ápice, ele conseguia a superação, afinal de contas, a vida era uma competição. E isso ocorreu em um provão de final de bimestre. Tinha prova de física, com o professor Ary Zwirtes (tinha cara de mau, mas era um bom professor) e eu não sabia nada daquelas fórmulas malucas. Nem o Mutly, Jeferson, Ronaldo... e então chegamos mais cedo na sala e cada um colou as benditas fórmulas em sua classe. Aí chegou o professor e jogou um balde de água fria: "- Pessoal, a prova será no salão, juntamente com as outras duas turmas". Não deu outra, cada um pegou sua classe e levou para o salão, que ficava no segundo piso. Até aí tudo bem, o professor começou a distribuir a prova, peguei a minha e comecei a passar as fórmulas da classe para a folha. Quando o professor chegou na classe do Mutly viu a cola que ele tinha feito e mandou ele apagar. Gargalhada geral. O Mutly olhou para a gente e ficou mais envergonhado ainda e todo mundo continuava rindo, enquanto ele apagava a classe. Até que ele não se aguentou e falou: "- Professor, o Daniel, Jeferson e Ronaldo também têm cola na classe". Silêncio. O professor Ary vai de classe em classe e manda cada um apagar também e, quando chegou na minha, viu que eu já tinha começado Fez uma marca na minha prova e mandou eu trocar de classe. Me f***. Após a prova nos reunimos ao redor de um banco que havia no pátio da escola. A nossa turma era tri unida, estávamos sempre juntos, sempre naquele banco. E naquela noite todos estavam revoltados com a atitude do Mutly. Lógico que ele teria que levar o troco, isso não poderia passar impune. E não passou. Combinamos que a apartir daquela hora ele seria ignorado, ninguém mais falaria com ele. E assim foi quando o cidadão chegou. Parecia um fantasma, ele falava e ninguém respondia. Nem olhávamos para ele. Na outra noite, o Mutly adentrou na sala e ninguém deu bola. Sentou na classe dele e tentou conversar. Nada. Nem um pio. Era como se ele ele não existisse. Um a um foram levantando e sentando em outro lugar, deixando o Mutly sozinho, isolado. Confesso que me senti mal com isso. Tá certo que ele merecia, mas foi cruel. E foram várias noites assim, com o Mutly isolado da turma. Depois de um tempo voltamos a nos falar e tudo voltou (mais ou menos) ao normal.
Bem interessante... o Mutly era uma figura mesmo.
ResponderExcluirPuxa! Não sabia que eu tinha cara de mau. Ainda bem que me consideravam um bom professor de física.
ResponderExcluirBah professor.... que surpresa boa :-)
ResponderExcluirBons tempos aqueles do Ruizão... engraçado que os professores que mais cobravam são sempre os mais lembrados e hoje vejo o quanto isso era importante.
lembrei daquela corrida maluca , mutlyyyyyyy faça alguma coisa , hauahuhauhaua
ResponderExcluirmassa esses relatos antigos e um pouco nostalgicos .