O palco já estava montado. Na primeira fila ela aguardava com certa ansiedade. As cortinas vão se abrindo lentamente sob uma penumbra cinza-azul-escuro. No ar, um sentimento de nostalgia, uma sensação de que as coisas já não mais seriam como antes.
Seus olhos pretos estavam fixos em um ponto qualquer, sua imaginação e lembranças voavam ao longe...
As luzes apagam-se por completo, envolvendo a todos com uma escuridão sinistra. Medo e suspense pairam no ar.
De repente, um holofote aponta para o canto inferior, à esquerda: há um corpo caído, sentado junto ao canto. Lagrimas caem dos seus olhos. Ele encara as pessoas com seus lábios trêmulos, machucados, vermelhos de sangue. Morde outra vez os lábios. Enxuga as lagrimas e levanta-se... O show deve continuar!
Estufa o peito e uma coragem nunca experimentada antes com toda essa intensidade lhe invadem a alma. Ele fez sua parte... Bem? Mal? Isso pouco importa agora. Ele fez sua parte e ponto final. Após baixarem-se as cortinas, lança-se num choro compulsivo, mas tem de conter, afinal, as cortinas logo irão se erguer novamente...
Ela encara seus olhos friamente. Sente dor, angústia, arrependimento, mas seu olhar não demonstra. Ela levanta-se e o encara de frente. O publico, assiste a tudo em um silencio ensurdecedor. O som de palmas se espalha pelo teatro... Palmas solitárias. Seu show enfim chega ao final.
O som ecoa por todo o teatro e ele sorri, um sorriso triste, de despedida. As cortinas baixam lentamente. A ela, parece uma eternidade. As luzes apagam-se por completo. Silencio total.
Uma luz turva ilumina o palco vazio. Seus olhos procuram – em vão – por um movimento, um vulto, pelo seu rosto triste...
Os olhos dele ainda permanecem vivos em sua lembrança, apesar de todos os anos que se passaram. O que teria acontecido naquela noite? Ninguém nunca soube... Ninguém nunca saberá... Ele apenas desaparecera no ar... Sem beijos... Sem despedidas... Apenas partira.
Sua última cena.
15/maio/2002 – 13:15
Comentários
Postar um comentário