Ontem estava concentrado na minha vida de suporte quando, de repente, não mais que de repente, começa a tocar na rádio James Taylor – You’ve Got A Friend. E por alguns momentos fiquei pensando e lembrando de alguns amigos. E a lembrança se estendeu a momentos e fases deste meu andar.
Conheci a música através de uma amiga distante, do tempo das cartas e dos selos (os fortes entenderão). E naquele tempo havia um hábito de trocar fitas cassete (não cara, não exista download nem cd/dvd), onde o vivente gravava músicas de seu pequeno universo e enviava, pelo correio, a um amigo. Na época, eu ouvia, basicamente, rock nacional, sabia da existência do James Taylor, mas nunca tinha escutado alguma música dele. Lembro que adorei as músicas enviadas, mas esta em especial.
E todas estas lembranças me levaram a refletir um pouco sobre o tal Dia do Amigo e o significado desta palavra tão usada (e por que não dizer banalizada?) em nosso dia-a-dia. Afinal de contas, o que é um amigo? Em qual momento um amigo passa a ser considerado um mero conhecido ou até mesmo um inimigo? Ouvi uma frase mais ou menos assim: “ah, tu é meu amigo de segunda à sexta, das 08:00 às 18:00”. Não sei se concordo com essa simplificação. Já tive colegas de trabalho que, apesar do contato estar restrito àquele ambiente, posso seguramente chamar de amigo, pois de alguma forma, através da soma de pequenos gestos (muitas vezes passados despercebidos), se fizeram mais amigos do que outros com quem tinha um convívio maior. E é natural que com o passar do tempo estas pessoas se percam pelo caminho e fiquem somente na lembrança. E nem por isso deixam de ser amigos. Já comentei em outra postagem sobre a tal validade da amizade. E continuo acreditando que amizade dura para sempre, apesar das distâncias e da falta de contato.
Na época das cartas algumas pessoas não entendiam como eu poderia considerar um amigo(a) uma pessoa com quem não tinha contato físico, que nunca tinha visto na vida. Diziam que o papel aceita tudo e que a pessoa poderia inventar mil coisas. Mas poxa, pessoas assim tem em todo lugar e em nossa volta. Pode parecer excesso de romantismo de minha parte ou saudosismo, mas o que eu quero dizer é que eram sim amizades verdadeiras e muita gente daquele universo me conhecia muito melhor que muitos dos meus amigos mais próximos fisicamente. E algumas dessas pessoas são minhas amigas até hoje.
O interessante é que eram amizades inocentes e despretensiosas, que começavam nos classificados de alguma revista ou FB’s e rompiam as barreiras da distância. “Que coisa mais sem graça, pode pensar alguém”… ou então “é muito mais fácil conversar no face”. Sim, é mais fácil, mas às vezes, é mais superficial. Ou não. Quem sabe, talvez… vai saber né. Mas o que eu quero dizer é que escrever uma carta envolve muitas coisas. Que coisas? Primeiro tu tem que sentar, pegar um papel e uma caneta e escrever uma, duas ou mais folhas (e como tinha assunto), às vezes fazer um desenho, depois ir ao Correio, comprar um selo, postar a carta e ficar esperando por uma resposta (que às vezes não vinha). E assim as amizades nasciam e cresciam através das canetas, selos, papéis e carteiros (sim, eles ainda existem).
Garanto que alguém pode estar pensando: “mas que diabos é esse tal FB?”
Os Friendships book, ou livros de amizade, eram livrinhos, feitos a mão, onde alguém colocava seu nome, endereço e, às vezes, idade e interesses e passava adiante por carta. Então a pessoa que recebeu o FB também colocava seus dados e passava adiante. E assim, ao receber um FB com uma lista de nomes, o vivente poderia escolher uma ou mais pessoas e enviar uma carta, se apresentando. Basicamente era uma rede social tupiniquim.
“… é como ficar esperando cartas que nunca vão chegar
não vão chegar com ‘x’ nem vão chegar com ‘ch’
é como ficar desesperado de tanto esperar
é como ficar relendo velhas cartas até a vista cansar…”
(HUMBERTO GESSINGER)
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