Pular para o conteúdo principal

Críticas, confronto e apreço - Luciano Pires

Interessante o texto abaixo. Vale a reflexão. Eu fiz a minha e me dei conta onde em alguns momentos eu também fui uma pessoa negativa e, algumas vezes, infeliz em meus comentários. E, quando o comentário é por escrito, sua consequência pode ser devastadora, pois nossa expressão facial não o acompanha. O que era para ser uma simples brincadeira (se é ou não de mau gosto não vem ao caso) passa a ser uma ofensa. E machuca. Ou pelo menos desagrada. “E a palavra, uma vez lançada, voa irrevogável”. (Horácio)

Em 2003, cinco alpinistas montaram um acampamento no extremo sul da Terra do Fogo, num dos lugares mais inóspitos do planeta. O objetivo era escalar o Monte Sarmiento, uma montanha pouco explorada, com cerca de 2400 metros de altura, famosa por sua beleza e perigo da escalada.

O resultado da aventura foi o filme Extremo Sul, que é excelente e merece ser visto. Um momento é especialmente tenso: quando às vésperas da escalada o time se reúne para discutir as estratégias de ataque à montanha. No meio da discussão um dos alpinistas argentinos muda o destino da expedição ao manifestar suas preocupações, lançando dúvidas sobre a capacidade da equipe de escalar a montanha e afirmando que não seguiria em frente. A surpresa da equipe ao ouvir aquela voz dissonante e negativa foi seguida por uma discussão acalorada e pela destruição da harmonia entre o grupo, que acaba desistindo da escalada. O filme mostra as opiniões de cada um, sem ser conclusivo. Mas aquela sequência da destruição da harmonia é impressionante.

Recentemente tive uma experiência semelhante enquanto participava de um workshop. Após uma palestra e entrevistas entre os participantes, o grupo se reuniu para a avaliação diária do evento. Era possível sentir a energia no ar, as pessoas falando alto, todos querendo dar opinião, aquela sensação gostosa de que as coisas estão acontecendo. Um dos participantes pede a palavra e solta:

- Fiquei profundamente insatisfeito com o comportamento de um dos grupos. Não gostei.

Pronto! Foi como se alguém desligasse um motor barulhento e ficasse tudo em silêncio. Dava para sentir a energia do grupo dissipar. O tesão da turma desapareceu imediatamente e todos se colocaram na defensiva à espera da continuação da afirmação negativa do participante. E o grupo não retornou ao estágio inicial.

Esses dois acontecimentos tem muito a ensinar sobre nosso papel quando estamos envolvidos em processos de criação e execução, especialmente de idéias.

É perfeitamente possível defender um ponto de vista contrário ao de outra pessoa, desde que você atente à forma que utilizará para se expressar. Quando você vai aos extremos, no negativo, a tendência é “cair o disjuntor” de seu interlocutor. Dali pra frente só existe o confronto.

E como gosto de dizer, no mundo de hoje, o confronto, a crítica e até mesmo o ódio são mais socialmente aceitos que as expressões de apreço. Isso é muito ruim, porque apreço é uma atividade que cria valor. O apreço energiza as pessoas, faz com que elas excedam seus objetivos e limites percebidos. Quando substituímos o apreço pela negação, pela contrariedade, pelo rancor, só temos o confronto que paralisa, intimida e canaliza a energia para a defesa. E todos perdem.

Na próxima vez em que você for abrir a boca, pense se vai construir ou destruir.

Com apreço,

Luciano Pires

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Aníbal - Carência (1989)

Aníbal foi um cantor que surgiu em 1989 e, aparentemente, lançou somente um disco. Foi um som que marcou minha adolescência e traz lembranças da terrinha (Ijuí/RS), dos amigos. Para quem quiser conferir, pode baixar o arquivo no 4Shared ( clique aqui ).  

Relógios exóticos

Os seres humanos começaram a contar as horas olhando para cima e definindo a posição do sol. Depois vieram as ampulhetas e os relógios de água. A identidade do criador do relógio mecânico é recheada de controvérsia. Para uns veio do Oriente, já que Carlos Magno teria ganho um mecanismo de medição de horas do califa de Bagdá. Para outros, foi um arcebispo de Verona em 800 d.C., e há quem atribua o fato para o Papa Silvestre 2º. O relógio de bolso surgiu em torno de 1.500 e credita-se a invenção do modelo de pulso a Santos Dumont e Louis Cartier (aqui também há gente que discorda do acontecimento). Seja lá quem foi o pai da sensação de estarmos atrasados, o relógio de pulso pode dizer muito da personalidade de quem usa, já que existem os modelos mais esportivos, outros mais clássicos e até mesmo os vintages. E é um campo fértil para os designers e tecnólogos, por isso selecionamos dez relógios totalmente diferenciados e com alguns a leitura de horas pode ser tão complicada quanto enten

Qual é a maior dificuldade do ser humano?

Pensa rápido: qual é a maior dificuldade do ser humano? Pensou? Bom, eu também não sei, por isso mesmo que perguntei. Mas sinto que as pessoas tem muita resistência à mudança. Não estou falando simplesmente sobre mudar de endereço ou de emprego, mas sim na mudança de hábitos e, principalmente, mudar aquilo que nos deixa infelizes, angustiados ou simplesmente aquele sentimento de insatisfação que vai corroendo por dentro. Ficamos acomodados em nossas vidas mesquinhas, com medo de encarar o desconhecido e aquela situação que era para ser passageira vai se enraizando cada vez mais e, por fim, acaba tomando conta da nossa vida. Lógico, é mais fácil deixar tudo como está e ver no que vai dar do que arregaçar as mangas e ir à luta. “Os barcos estão mais seguros nos portos, mas não foi para isso que foram construídos.” Alguém pode dizer: "ah, melhor ficar com o pouco que tenho do que arriscar e ficar sem nada", ou então "por que começar de novo, numa nova Cidade ou Estado