Outro dia estava conversando com um amigo sobre os bons tempos das cartas. Sim, aquelas mesmo: papel, envelope, selo, carteiro – e ficamos filosofando sobre isso.
É verdade que a Internet, redes sociais e os e-mails aproximaram muito as pessoas. Permitiram com que amigos distantes um do outro e, de certa forma, esquecidos em algum lugar da memória, pudessem se reencontrar, continuando a amizade, ou melhor, entrando em uma nova etapa. Raramente uma amizade continua a mesma ao longo dos anos, infelizmente alguma coisa sempre muda, algo sempre se perde pelo caminho. Mas enfim, não é este o objetivo desta conversa.
Não sei explicar exatamente o meu sentimento em relação a isso, mas parece que o e-mail tirou a emoção e o romantismo que havia nas cartas, deixou tudo muito rápido e a espera, de certa forma, mais angustiante.
Então tu estás esperando muito um e-mail, aí de cinco em cinco minutos tu olha a caixa de entrada e o e-mail não vem. Dá um F5 e nada. Clica em verificar e-mail e só entra o maldito spam. É uma espera longa.
Interminável. Até que finalmente chega o tão esperado e-mail. Tu clicas no link, lê, responde (às vezes com meias palavras) e o e-mail vai para a lixeira. E escrever um e-mail é muito rápido, e na maioria das vezes tu mal pensas na pessoa para quem tu estás escrevendo (veja bem, isto não é uma regra). E dependendo de como está teu humor ou estado de espírito, a conversa acaba ali.
A carta também tem este momento de espera, mas é uma espera que não depende só de ti. Depende do carteiro, de quando a pessoa postou a carta, do cara que separa as correspondências na Agência dos Correios, do Zé Colméia... Em minha opinião receber uma carta tinha mais vida, mais alegria. Às vezes eu ficava esperando o carteiro na porta de casa e quando ele me via dava um sorriso: "opa, hoje tem carta pra mim." E o coração já disparava. E não era só isso, tu acabavas fazendo amizade com o carteiro, eu conhecia o da minha rua pelo nome e nas datas festivas sempre tinha uma lembrancinha. E escrever cartas tinha todo um ritual: pegar o papel, escolher um pensamento para colocar no início, a caneta não era uma Xing ling qualquer, às vezes fazia algum desenho ou pintura. Sem contar que a escrita era a próprio punho. Seria meio que uma heresia datilografar uma carta! E após tudo isso ainda tinha levar o envelope até a agência. Muito trabalhoso? De certa forma sim. Mas era algo gratificante. Pelo menos pra mim. Ia com alegria no Correio e conhecia todos os funcionários do balcão. E o conteúdo da carta sempre mudava, pois como passavam dias até obter a resposta, o estado de espírito já era outro e sempre havia novos assuntos.
Ou seja, ficamos mais próximos dos amigos distantes e, de certa forma, nos tornamos mais solitários. Parece meio que uma contradição, mas sinto que a Internet tirou parte do convívio físico. Hoje tudo está na nuvem. Inclusive os amigos.
Amigos da Pena – Autor desconhecido
Isto é maravilhoso, penso eu, quando amigos são feitos por pena e tinta. Um pedaço de papel azul ou branco. Alguém decide que ela escreverá para alguém que ela nunca verá, que vive onde ela nunca estará.
A pena torna-se uma varinha de condão. Dois estranhos começam a se corresponder, não serão estranhos por muito tempo, mas brevemente bons amigos. A ponto de notar como sua última carta terminará. Como é agradável sua troca de opiniões. A comentar as importantes notícias.
Dois amigos que vivem totalmente separados podem alegrar muito o coração de cada um. Podem também importar-se um com o outro. Com bons pensamentos nos tipos da carta. Eu penso que realmente isto é bonito.
As amizades crescem com pena e tinta.
Muuuuuito bom, Daniel!!! Concordo com você!!!
ResponderExcluirDemais esse artigo.
ResponderExcluirConcordo plenamente e sofro ao viver nos imediatismo do nosso cotidiano moderno.
A emoção de escrever uma carta é muito melhor do que o acessar de um e-mail.