06h32min... Eram 06h32min quando olhei no relógio... Mas eu já estava acordado há algum tempo... Sabe quando tu tem um sonho tão bom e depois que acorda ainda fica com os olhos fechados pensando em cada detalhe do sonho e desejando que fosse realidade? Aí tu acorda de vez e volta à realidade do dia-a-dia. Bom, fiquei rolando um pouco na cama, levantei, fiz o que tinha que fazer e fui preparar meu chimarrão, ainda sonhando acordado com o sonho. Liguei o micro e coloquei uma música dos Engenheiros do Hawaii.
“Nem tudo está perdido/nem sinal de pedra no peito/ o horóscopo no jornal arriscou um belo dia/liguei o rádio na hora certa/ era a canção que eu queria/ nem tudo está perdido/tudo em paz no reino da química... sonhei com meu pai e ele sorria/ chimarrão pra acordar era só o que eu queria...”
Enquanto preparava o amargo da tradição viajei no tempo e acabei indo buscar na memória lembranças da Litografia Serrana. Trabalhei nesta gráfica por quatro anos e para mim foram momentos mágicos, sublimes. Não sei como explicar, mas eu sonhei em fazer parte daquela família... Era assim que eu via a Litografia: como uma família. E quando surgiu a oportunidade de “fazer um teste” fiquei feliz da vida. Lembro como fosse hoje o César me aplicando um teste de matemática e depois de datilografia. Ele nunca me disse como fui no tal teste, mas o fato é que passei e fui trabalhar no setor de expedição. Foi minha realização. Passava o dia organizando meu setor e trabalhar era um prazer. Eu estava substituindo um cidadão que estava de férias e eu sabia que aquele cargo era provisório. Quando ele voltou fui promovido ao escritório, para o setor de faturamento.
Dias atrás fui ao Parque da Malwee e lá tem um museu e foi aí que comecei a relembrar os tempos de Litografia. Bah, minha primeira calculadora foi uma exatamente igual esta da imagem. Tu teclava os números e escolhia naquele botãozinho no canto superior direito a operação desejada e aí girava a manivela. Cara, tu não tem noção do que é fazer um cálculo de duas folhas, girando a manivela e depois ter que conferir os dados na bobina. E fazer os balancetes na máquina de datilografia e quase no final errar uma letra... Putz... Arranca o papel, amassa, joga no lixo e começa tudo de novo. “- Tchê, tu é muito velho!”.
Mas o que mais marcou foram algumas amizades que fiz, guardo até hoje no peito, apesar de ter perdido o contato com quase todo mundo. No escritório as mesas estavam dispostas em fila, ao lado de um balcão comprido: a primeira era da Carmem, depois vinha a minha, a do René e depois vinha a do Ademir. Grandes amigos. Eu era um adolescente tapado e eles eram alguns anos mais velhos que eu - e casados. E apesar das diferenças éramos bons amigos.
Teve uma história que nunca contamos para ninguém... Bah... Muito mico... Micão... Hehe. Fomos fazer um churrasco na sede campestre do sindicato dos gráficos. O local era afastado da cidade e ali passava o rio Conceição. Chegamos lá, colocamos a carne nos espetos, preparamos a churrasqueira e fomos jogar bocha e tomar banho de rio. De repente o René saiu em disparada e logo atrás eu e o Ademir. Vimos o René debruçado num barranco, xingando e reclamando. Na verdade ele tinha corrido atrás dos espetos de carne, ou melhor, dos cachorros que “roubaram” churrasco. Bom, não levaram tudo, sobrou um espeto com um mísero pedaço de carne. Voltamos para a mesa para decidir o que fazer. E o que era ruim ficou pior, ou melhor, mais constrangedor. Uns colegas de outra gráfica vieram conversar com a gente e convidar para juntas às carnes e fazer o churrasco juntos. Lógico que não íamos contar o que tinha acontecido, iriam rir da gente por muito tempo. Inventamos uma desculpa e assamos aquele toquinho de carne. Tô rindo sozinho, lembrando da cena dois caras tentando espiar nossa churrasqueira com um pedacinho de carne e o Ademir e o René na frente deles, tentando esconder o que havia sobrado da carne. Bom, comemos o que deu e combinamos nunca contar nada pra ninguém. Essas duas criaturas foram muito importantes na minha vida, tenho certeza que eles nem sabem disso, mas me ajudaram muito, muito mesmo sem nem saber disso.
A lágrima que escorre no meu rosto não é de tristeza, mas de saudade dos meus amigos e dos bons momentos que tivemos.
Uma vez eu vi um filme, aonde um dos personagens, comentava que você não pode viver olhando pra trás. O mesmo completava a frase com: uma vida de passado trás angustia.
ResponderExcluirFalo por mim. Talvez algumas pessoas conseguem “pular” esta parte. Mãããs penso que é legal lembrarmos-nos dos velhos tempos e rir sobre situações engraçadas, mas ao mesmo tempo o sentimento de “eu poderia ter feito diferente” ou “e se acontecesse daquela forma” trás uma angustia.
Em vários momentos peguei-me lembrando do passado. Dos amigos do colegial, das mulheres que amei, do tempo que eu andava de Skate, do tempo que eu surfava, do tempo que eu apertava na campainha das casas e saia correndo. No começo sempre vem uma risada, mas depois fica um sentimento angustiante. Poxa, cadê os meus amigos daquele tempo? E se eu tivesse namorado por mais tempo com aquela menina? E se agente tivesse casado? Será que seriamos um casal feliz?
De uns anos pra cá eu resolvi me policiar mais sobre isso. Quando eu começo a lembrar de algo do passado, repito uma única frase “look ahead, look ahead, look ahead!!!”. E também tenho exercitado outra “maluquice” na minha cabeça.
Eu penso no futuro como se pensasse no passado, isto é, eu imagino o futuro e a forma que eu quero estar daqui 2, 5, 7, 10, 20 anos. Imagino-me de terno, grisalho, muito bem casado, com uma casa espaçosa, com bastante dinheiro, ensinando empreendedorismo e educação financeira a crianças carentes de muitas comunidades do mundo, pelo menos uns três bulldogs, um filho, e a imaginação continua...
Confesso. Já me achei louco em vários momentos, mas esta minha “maluquice” é tão gostosa de viver. Não traz angustia. Pelo contrario, traz felicidade e esperança.
Enfim. Isto é o que peso. Espero que você goste e, se possível, experimente esta minha “maluquice”. Hehehe
Abraços meu amigo Daniel