Ontem comprei uma caixa de ferramentas (vazia) e uma caixinha plástica para organizar meus parafusos. A ideia era eliminar a outra caixinha que eu tinha (tenho hehe), menor, onde eu guardava meus “brinquedinhos”. Mas aí organiza aqui, arruma ali e adivinha?! Achei uma função para a caixinha menor e agora tenho duas caixas de ferramentas. Pai e filho. E assim é vida, a gente sempre acaba guardando coisas aparentemente inúteis, que a gente não precisa. Ah, mas um dia a gente pode precisar, e aí? Viu, guardei e agora posso usar. Mas será que isso realmente acontece? Quantas coisas a gente guarda e nunca mais mexe... Ficam lá, guardadas, ocupando espaço. E espaço é algo que está escasso. Imagina mudar de um apartamento do tamanho de uma caixa de fósforos FIATLUX, tipo palito grande para uma caixinha de fósforos pequena, daquelas que a gente enchia de moedas para fazer os goleiros de futebol de botão. É a mesma comparação entre salário x mês: sempre o mês é maior! Hehe.
A verdade é que sentimos ciúmes das nossas coisas e se livrar delas seria como tirar um pedaço da gente. Tá exagerei, mas muitas vezes acontece algo parecido sim. E ontem estava eu organizando meus pregos, parafusos, buchinhas e faltou espaço para guardar tudo. Alguns parafusos e coisas que nem sei pra que servem teriam que ir pro lixo. Oh dúvida cruel. E agora? Como saber se daqui um tempo não irei precisar justamente daquele parafuso? E aquela peça plástica com formato sinistro, um dia pode servir para alguma coisa... Algum dia... Algum dia... Vai passar o tempo, chegar o dia do algum dia e aquela pecinha sinistra ainda vai estar ali e vou acabar usando outra pecinha, mais sinistra ainda que guardei também.
O que acontece é que somos moldados por nossas experiências de vida e, no meu caso, faz sentido. Tive uma infância pobre, morava em uma casa de madeira, velha, quase caindo e precisava de muitas reformas. Eu tinha, sei lá, pouco mais de 10 anos e era o “homem” da casa. Então sei lá de onde apareceu, mas eu tinha um martelo que vivia saindo do cabo e “assaltava” os pregos e parafusos do meu tio para fazer minhas reformas. Um dia fui pegar uns pregos e meu tio não gostou (eu disse que sentimos ciúmes das nossas coisas) e me perguntou por que eu não comprava meus próprios pregos? Lembro dessa cena como se fosse hoje. Doeu. Não tinha dinheiro para comprar e naquele tempo não havia lojas de materiais de construção em cada esquina. Comprar como? Mesmo me sentindo humilhado peguei aqueles pregos e fiz o que tinha que ser feito. Mas foi a última vez. A partir daquele dia eu ia ter minhas próprias ferramentas e materiais. E foi aí que comecei a “colecionar” coisas. Guardava cada prego e parafuso enferrujado que encontrava. Sabe aqueles pregos tortos de restos de construção? Pra mim tinham grande valor.
Sério, entendo a atitude do meu tio, não foi por maldade. Ele também tinha ciúmes das coisas dele, devidamente organizadas em latinhas de Nescau. Não guardo mágoas, muito pelo contrário, adoro meu tio e aprendi muito com ele. Sempre foi uma referência para mim. Mas foi algo que marcou minha vida. E agora tenho que escolher o que guardar e o que jogar fora. Oh dia! Oh vida! Oh azar! Hehe.
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